Duas semanas e uns textões depois, eu ainda tô enroscada em Pantera Negra. É que várias coisas mexeram comigo nessa história – e cada vez que penso sobre ela, quero falar de algo diferente.
Guid falou sobre como o figurino, tremendamente eficaz em contar a história com roupas e acessórios que também funcionam como personagens, lhe inspirou. E eu já falei sobre o que mais me impressiona nessa conversa toda: seu alcance.
Mas ainda tem muito a ser dito.
Mais do que um filme de herói, Pantera Negra é um filme de mulheres incríveis. Nenhuma delas tem poderes, mas a verdade é que elas não precisam nem da força nem da agilidade dos felinos. Elas são fundamentais por outros motivos. Por motivos maiores e mais representativos.
Entusiasta de histórias de herói e feminista, sempre tive um pouco de dificuldade de me espelhar em heroínas, algo que nunca deixou de me incomodar, ainda que jamais tenha me impedido de ser fã do gênero.
Isso tudo mudou com Pantera Negra.
Nakia (Lupita Nyong’o), Okoye (Danai Gurira), Shuri (Letitia Wright) e Ramonda (Angela Bassett) acabam carregando os grandes conflitos da história, defendendo suas posições sem nunca menosprezar o ponto que combatem. E elas se respeitam, mesmo quando divergem.
São fortes e recebem, em troca, o respeito adulto dos demais personagens. Mais do que componentes da guarda, do serviço secreto ou do departamento de tecnologia do reino, elas são conselheiras do novo Rei, que as escuta sem interromper ou repetir o que acabou de ouvir (que sonho!).
E suas intérpretes – conscientes do papel que representam – são ainda mais incríveis ao defender suas personagens. Danai Gurira diz que o fato de Wakanda ter crescido como país não colonizado permitiu que todos os seus cidadãos pudessem atingir seu potencial, sem os papéis de gênero que nos são impostos por aí.
Lupita Nyong’o é ainda mais incrível ao dizer que ver homens e mulheres vivendo seus poderes sem diminuir uns aos outros é um sopro de ar fresco. Ela ainda emenda: para mim foi um reflexo de que o sexismo é aprendido. Ver uma sociedade onde esse não é o ponto focal, onde o gênero não é o tecido com o qual a sociedade é construída e as delimitações do sexo não são opressivas, isso é muito legal. E é possível.
Que mulheres para se espelhar, num mundo de heróis, tão carente de personagens femininos que fujam do padrão donzela em perigo ou mesmo da super-heroína unilateral (tenho lá meus problemas com a Mulher Maravilha, embora entenda sua importância nesse cenário).
Que personagens maravilhosas. Que atrizes sensacionais. Que mulheres incríveis.
Que jeito de começar esse mês de março.