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Podemos, sim, falar de feminismo no blog de moda

Eu sou feminista.

lute-como-uma-garota
peita – lute como uma garota. 

E hoje eu já não tenho nenhum pé atrás de me declarar feminista. Tá. Nenhum pé atrás é meio que um exagero. Esse debate já foi muito pra terapia do textão – e lá no ansiosa tem uma caixinha inteira pra arquivar o que já escrevi e ainda vou escrever sobre o tema – mas ainda não acabou. Eu acho que, na verdade, não tem fim. Então o mais honesto de minha parte é dizer que hoje, ainda com um certo frio na barriga de medo e de ansiedade, eu sou feminista.

Sim, tenho medo. Medo do que as pessoas vão ler quando lerem que eu sou feminista. Afinal, é possível ler uma infinidade de coisas. Que estou só falando por falar, porque agora é tendência ser feminista. Que eu estou tomando o lugar de direito de quem é feminista de verdade. Que eu estou falando de um feminismo leve porque ocupo um espaço privilegiado dentro da sociedade. Há uma infinidade de asteriscos em minha declaração feminista.

E esses medos todos são construídos sob medida para que eu não diga.

Para que eu me cale.

Para que eu fique em silêncio. Porque vai que, né? São medos que são reflexos dos meus próprios preconceitos. A gente sempre tem medo de ser aquilo que aponta no outro. É assim, desse jeito sutil, que nossa voz vai sendo silenciada. E quando a gente vê, já não disse. Já passou, em silêncio, por aquele treinamento de RH em que todos os homens na sala deram uma risadinha cúmplice do vídeo de autoescola que ensinava uma condutora a fazer baliza sem entender que a lição era pra eles.

lute como uma garota.

Então, hoje, eu digo. Com medo mesmo, com a ansiedade colada no meu ombro feito papagaio de pirata: eu sou feminista.

E escrevo num blog de moda.

Porque tenho aprendido que não basta só dizer. Dizer não tem sido suficiente.

A gente precisa se desconstruir todo dia. A gente precisa fazer um exercício sem fim de desmonte. A gente precisa prestar atenção. E a gente precisa, com urgência, desencaixotar – me custa dizer isso, sabe, porque eu amo caixinhas, mas a gente precisa.

Eu sei que somos ensinados assim. Separamos tudo. Das disciplinas da escola às roupas “de trabalho”. Isolamos as coisas, como se elas só pudessem ser definidas por uma única característica. Só que esse comportamento nos impede de perceber que as coisas são plurais, complexas. Que nós somos complexos.

E que podemos, sim, falar de feminismo no blog de moda. Podemos, sim, ter discurso de empoderamento construído a partir de qual brusinha combina mais com seu estilo. Podemos, sim, falar de liberdade dizendo que você tem a opção de usar decoração de natal o ano inteiro na sua casa. Precisamos tirar as coisas das caixas de definição única. Precisamos, com uma certa urgência, refletir sobre as coisas sob mais de um prisma de análise.

Hoje eu tenho consciência de que não uso sapatilha porque não faz parte do meu estilo, mas tenho, também, consciência de que meu estilo foi construído de acordo com minha forma de encarar o mundo. Preferir jeans e camiseta de herói comprada na seção masculina é uma questão de conforto, mas também é um jeito de mostrar como penso a vida através do que pego no armário pra começar meu dia. Cortar o cabelo curtinho era um sonho de criança, mas também é um ato político.

Vestir-se é político. Vestir a casa é político. Existir é político.

O homem é um animal político, disse Aristóteles. Oras. A mulher também é.

Politizemos. Juntas.

Marta Savi

Marta gosta de escrever, mas tem dificuldade em fazer pequenos perfis de si mesma. Teoriza tudo. Odeia quartas-feiras. Se pudesse votar em 1993, teria votado no Rei. É ansiosa aqui uma quinta sim e uma quinta não, e toda sexta no ansiosa.blog.

  • Elena Savi

    … yessss!!! Adorei o texto, Marta feminista e política ❤️❤️❤️

    21 de setembro de 2017 at 17:55 Responder
  • Aline

    Que texto incrível e mega conveniente ao que estou vivendo!
    Eu confesso que também tinha receio de dizer que sou feminista por estes motivos e outros tantos, mas hoje, trabalho internamente que se assumir é necessário não só para ajudar as outras, mas fazê-las entender que ser feminista não é o demônio que pintam por aí.

    E quem não quiser entender, que siga sua vida. Que nossa vida possa ser rodeada por pessoas na mesma sintonia e que possamos influenciar aquelas que ainda não estão!

    Um beijo

    21 de setembro de 2017 at 19:17 Responder
  • Aro

    “Vestir-se é político. Vestir a casa é político. Existir é político.
    O homem é um animal político, disse Aristóteles. Oras. A mulher também é.
    Politizemos. Juntas.”

    A-MEI

    21 de setembro de 2017 at 21:15 Responder
  • Carol Justo

    Ai, que texto!!! Eu nem tenho nada para acrescentar, voce falou tudo e mais um pouco.
    Feminismo se fala em qualquer lugar, se fala sobre feminismo no blog de moda e no churrasco com os amigos do futebol. Na escola, no trabalho e até no ônibus.
    A gente nunca pode se calar, jamais. Fico feliz que tenha decidido publicar esse post. <3

    Carol Justo | Pink is not Rose

    22 de setembro de 2017 at 02:06 Responder
  • Isabela

    Que texto maravilhoso! Vontade de imprimir e sair distribuindo!

    22 de setembro de 2017 at 02:53 Responder

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